FUNÂMBULO

SINOPSE

De carácter experimental, este trabalho pretende fazer uma ligação entre dois universos, bem distintos: o do teatro de objectos e de marionetas com o universo da música experimental electro – acústica.

O projecto inspira-se num episódio verídico em que um funâmbulo (equilibrista) de nome Karl Wallenda, na tentativa de atravessar dois prédios em San Juan, Porto Rico, no dia 22 de Março de 1978, morre, em directo para o canal televisivo porto-riquenho WAPA-TV.

Não queremos contar a história dramática da vida deste artista, mas sim a eminência da queda, essa questão de segundos que a antecede e, em que, ao deparar-mo-nos com ela, somos confrontados com uma opção: deixo-me ir ou não.

Tomando como ponto de partida a própria condição do artista quando se depara com os problemas do seu trabalho no momento da criação e das escolhas que tem de fazer, podemos constatar que o acto criativo está intimamente ligado com as decisões que se tomam no momento.

Neste caso particular, uma queda a partir de uma corda, onde o artista arrisca sem segurança alguma a sua própria vida, poderá num único momento de decisão levá-lo ao abandono e a deixar-se ir.

No contexto actual, o artista em Portugal também se encontra por um fio, ou seja, está num momento em que ou deixa de fazer a sua arte ou continua numa procura e em estado de persistência, para que seja reconhecida a importância da arte na vida contemporânea.
Escolhemos um teatro cru para descrevermos melhor este momento do som da queda, do som da morte (se é que o há?), sendo que este será sempre um trabalho de busca desses sons, a que normalmente o ser humano não presta atenção nem reflecte sobre a sua existência.

Esta fusão entre dois universos distintos será em tempo real tanto a nível da manipulação dos objectos como a nível sonoro, pois o que nos interessa é a procura dessa alma sonora do objecto. Para que isso seja possível, vamos construir ou modificar uma mesa sonora amplificada através de um sistema piezo-eléctrico para que eles produzam o seu próprio som ao manipularmos os objectos sobre essa mesa, tanto ao nível dos movimentos como ao nível de intensidades e matérias.

Com o recurso a diferentes sistemas digitais vamos também modificar os próprios objectos para que eles criem o seu próprio som (alma) e para que o espectador também o (a) oiça ao ver a acção a desenrolar, ao mesmo tempo que o (a) sente através das deslocações do som no espaço.

Sendo a base deste trabalho uma fusão entre dois universos tão distintos e nunca fugindo daquilo que está na base da música electrónica, vamos trabalhar então com o que de melhor produzem e tentar criar um espectáculo litúrgico-tecnológico.