“A recolha de memórias é inesgotável”

“Aqui também há pássaros” é um projeto da associação Alma D’Arame dedicado ao público da terceira idade institucionalizado no Abrigo dos Velhos Trabalhadores de Montemor-o-Novo. O objetivo desta iniciativa é procurar e dar forma às mais antigas memórias da cidade e dos seus habitantes para, no final, as apresentar à comunidade com uma exposição/ performance.

São histórias de vida, de trabalho, de amor, lendas, contos tradicionais, poesias, lenga lengas e até canções antigas. Todo este legado vai sendo recuperado junto da população mais idosa. Partindo do universo artístico das marionetas e da manipulação de objetos, o grupo explora através técnicas de manipulação, construção, desenho e sonoplastia.

Marina Anastácio, técnica de psicomotricidade, e Ricardo Falcão, artista plástico, são a cara deste projeto. Em simbiose juntam as suas artes e técnicas de uma forma multidisciplinar com o objetivo central de fortalecer a autoestima, a capacidade de comunicação, a atenção e a criatividade destes anciãos. “É um projeto preenchido pela simplicidade e o encanto da espontaneidade. Construir, fantasiar, rir e brincar enfeitam os encontros. São verdadeiros momentos de gratidão e partilha generosa”, resume Marina Anastácio que se preocupa também com a condição física de cada participante, e que salvaguarda que o bem-estar emocional funciona como um antídoto da passagem do tempo.

E porquê o nome “Aqui também há pássaros”?

Porque todas estas memórias são trabalhadas a partir da observação dos pássaros que habitam a cidade. E esses pássaros tanto podem ser reais, como fictícios. A sua simbologia associada ao passado e eternidade traz voz a este conceito. “São estes pássaros, que vamos construindo ao longo das sessões, que no final darão a voz e corpo a todas estas memórias vivas”, adianta Ricardo Falcão, que destaca ainda a importância desta iniciativa também para os públicos mais jovens: “Creio que este trabalho é muito importante não só para a comunidade mais anciã, como a mais jovem, no sentido que preserva e dá a conhecer a história da cidade e dos seus habitantes de um ponto de vista sensível e subjetivo, para além daquele que vem nos livros mais técnicos de história”.

O retorno destas sessões, que tiveram início em setembro e vão finalizar em dezembro, tem sido bastante positivo, observável não só na alegria dos participantes, como dos próprios monitores/formadores envolvidos. No final de cada encontro há sempre tempo para um momento musical de canto coral, o que dá uma grande energia e união ao grupo e torna este projeto realmente único. “É forte sinal de que estas pessoas, muitas vezes esquecidas nas instituições, têm uma voz a ser ouvida, muita sabedoria e conhecimento a transmitir aos mais novos”, confirmou Ricardo Falcão, elogiando: “A recolha de memórias têm sido inesgotável”.  

Ricardo Falcão
“É forte sinal de que estas pessoas, muitas vezes esquecidas nas instituições, têm uma voz a ser ouvida, muita sabedoria e conhecimento a transmitir aos mais novos”.

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